Pesquisar neste blogue

quinta-feira, março 30, 2006

o autor a música e a rádio


Como trabalham os nossos ouvidos?
Qual é o papel duma playlist numa rádio?
Quem escolhe a "música"?

Três ou quatro "programadores" (um por cada rádio) "seleccionam" o que as rádios de maior audiência deixam ouvir.

Curioso, bastante curioso: mais de oitenta por cento do som é coincidente. Em nome da eficácia restringe-se, de forma significativa, o leque do que é "permitido" escutar.
Alguém ganhará com esta escolha?
Quem?

Há muitos anos , até 1974, havia a censura oficial patrocinada pelo Estado.
Quem patrocina actualmente a ocultação ?
A resposta não é linear. Muitos interesses se cruzam numa lógica que tende para a uniformização das mensagens.
Nesta aldeia global, há poderes que se apropriam do sentido ético e estético.
Hoje, nos grandes meios de comunicação ,desaparece o autor do ready-made e a ocultação da música é muito superior à de outrora.
Mas a música é apenas um dos grãos retidos pelo filtro...

Música na rádio o mesmo que publicidade?

É evidente que a “playlist” é apenas um sinal. Um indício
de controlo, centralização e, simultaneamente, da falta de confiança das direcções das rádios, na capacidade dos animadores ,que têm ao seu serviço, para cumprirem com eficácia a estratégia da estação.

A prática da maioria das rádios, no que se refere à música, tende para a uniformização e para a exclusão da diversidade e consequentemente para a repetição e saturação.

Numa sociedade que se afirma democrática, pluralista e aberta exclui-se o plural e a diferença.
Numa sociedade em que o discurso da inovação é incentivado, a prática aponta no sentido oposto.

O argumento utilizado é o de que a maioria das pessoas prefere aquele tipo de música e não outro. Argumento que, dizem, se baseia em estudos de mercado.
Mas como pode um cidadão dizer que gosta de um músico que nunca ouviu e que as rádios nunca divulgaram?
Como pode alguém pronunciar-se sobre o que não conhece?

Hoje o espaço para a música, nas grandes rádios ,é ocupado quase sempre pelos mesmos artistas, fechando portas a novos valores ou, até mesmo, a antigos que se afastem do “mainstream”.
Só depois de atingir um considerável volume de vendas , um artista, tem direito a exposição radiofónica.
Se, por hipótese, a mesma filosofia for aplicada aos noticiários então, passaremos a ouvir apenas uma notícia depois dela ter surgido num considerável número de outros órgãos de comunicação. Ou seja, só depois de insistentemente repetida algures, é que aparece no noticiário de uma rádio. É evidente que isto é um absurdo.

Se para as notícias o critério passa pela novidade e pela complementaridade - neste caso informativa -, o que levará os estrategos radiofónicos a adoptarem uma filosofia inversa em relação à música?

Provavelmente, no caso da rádio, a música é vista como uma entidade de características bastante diferentes das notícias e muito próxima da publicidade.
Tal como nos anúncios,a música tem uma frequência de repetição muito alta - uma faixa musical pode passar durante meses sucessivos -, enquanto nas notícias a frequência é relativamente baixa.

Nesta máquina de repetição que é a rádio , música e publicidade aproximam-se cada vez mais.
Para ter publicidade “no ar” o cliente paga. Será que para ter música “no ar” a editora paga?
Penso que não, apesar de serem conhecidos alguns “escândalos” deste tipo nos Estados Unidos da América.
No entanto, não ficaria espantado se tal acontecesse no futuro ,tendo em conta a actual tendência de tratar a inserção da música, numa grelha radiofónica, com regras semelhantes às da publicidade.

E esta é uma das chaves da questão: a filosofia de passagem de música numa rádio está mais próxima da das notícias ou da da publicidade?

Se a lógica for a das notícias , dos comentários, existe lugar para o novo, para a diferença, para a surpresa, para a descoberta;
Se, pelo contrário, for a da publicidade, o leque de escolhas será reduzido e a insistente repetição a regra dominante.
Se esta última hipótese se consolidar, cada vez mais o dinheiro assumirá um papel determinante em prejuízo da estética. Cada vez mais a música será apenas um produto de consumo e menos um bem com algum valor cultural. E , se ainda , se lhe reconhecer alguma mais-valia cultural,ela estará subordinada ao valor de mercado. Cada vez mais a liberdade de expressão nos grandes meios de comunicação, neste caso a da música, se limitará a quem tem poder económico.

Sem comentários: